Pra quem ainda tinha dúvidas da força do rap, veja essa matéria do blog Estadão, da jornalista Nina Lemos:
“O rap ainda é o dedo na ferida”. A frase, de Emicida, nunca fez
tanto sentido como na noite de ontem. Parecia roteiro de filme. Na mesma
hora em que os principais artistas de rap eram coroados no VMB 2012, a
polícia entrava em confronto com moradores da Favela do Moinho, que
pegou fogo no início da semana. De um lado, a premiação. Do outro,
porradaria. Relatos falam que houve bomba de gás, bala de borracha e um
homem baleado por bala de verdade mesmo. Esse foi o ano em que o VMB
mais valorizou e premiou o rap na história. E, mais que nunca, o rap é a
voz da periferia e da favela. “Rap é atitude política”, costuma dizer o
“artista masculino do ano”, Criolo.
Sim, parecia filme. O vencedor da noite, Emicida, estava na festa
para ser premiado justamente por causa da música e do clipe de “Dedo na
Ferida”, que fala sobre o massacre de Pinheirinho. Ele próprio já ficou
sem casa por conta de desocupações de favelas quando era criança e essa é
uma das suas maiores causas.
O refrão é: “foda-se vocês, fodam-se
suas leis”. E a frase: “o rap ainda é o dedo na ferida” é dessa música.
Na noite de ontem, Emicida e seus “irmãos” mostraram que o rap é o
dedo na ferida, sim. E demonstraram a tal atitude política de que Criolo
fala. “O momento não é de festa”, disse Emicida ao subir no palco para
ganhar o prêmio de música do ano por “Dedo na Ferida”. “A polícia está
impedindo moradores de voltarem para suas casas na favela do Moinho. O
momento não é de festa.” O rapper empunhava uma bandeira do MST e usava
uma camiseta do Cólera, banda de punk rock ativista que acabou ano
passado após a morde de seu líder, Redson.
Criolo já tinha mostrado que “a família” não estava ali para
brincadeira. Ao ser eleito o melhor artistista masculino do ano, dedicou
o prêmio “às autoridades do Brasil que com certeza vão investigar os
incêndios que castigam as favelas de São Paulo”.
No fim da noite, os mitológicos Racionais MCs mostraram o quanto a
música pode ser absurdamente política. Clipe do ano vencedor: “Mil faces
de um homem leal, Marighella”. A música foi feita para o líder da ALN,
morto durante a ditadura militar. “Super herói mulato, defensor dos guerreiros”.
Se alguém tinha dúvida, ontem ficou provado. Os homens do rap são
hoje os artistas com mais coragem e atitude política no Brasil. E,
graças a eles, foi bonita a festa.
RAP CADA VEZ MAIS FORTE!!!